quinta-feira, 21 de novembro de 2013

DESOBRIGAÇÃO DO VOTO SERIA UM BEM OU UM MAL?


Sobre a obrigatoriedade do voto: Voto livre? Quem se beneficiaria?
   Em virtude de um exaustivo processo de descrença e descrédito que perpassam as representações políticas e os políticos em si no Brasil, ver-se nos últimos tempos ventilar-se a intencionalidade de instituir a desobrigatoriedade do voto. Diante disso, vêm-se num contraponto as seguintes observações: o Brasil estaria prontamente amadurecido para esse importante passo da democracia? Voto livre? Quem se beneficiaria de fato? Essa seria realmente a medida mais sensata e de bom tom? A que interesses atenderiam essa medida? Muitas são as indagações sobre um projeto dessa monta. Desta feita, seria salutar debater essas pontuações observadas.
Não obstante, cabe destacar que o direito ao voto não se constitui uma mera imposição em si, mas, uma resultante de um longo processo histórico de lutas, por esse direito de liberdade de escolha e participação, nas esferas de decisões políticas. A cujos, os indivíduos viviam a margem, desse processo decisório dos destinos sociais e políticos no Brasil.
Todavia, no período colonial, os representantes das Câmaras Municipais e o Governo Geral eram nomeados pela Corte. No Período Imperial os interventores estaduais e representantes legislativos, eram constituídos de votados e votantes apenas dentre aqueles cognominados de “homens bons”, ou seja, os “homens maus” não detinham direito de voto e serem votados, e ainda sendo submetido ao Poder Moderador, ou seja, a vontade do monarca. Da mesma forma, as pessoas inópias, as mulheres, os analfabetos, ou seja, uma significativa monta da população ficava as margens do processo eleitoral.
Assim como também, com o advento do republicanismo, os pré-requisitos não diferiram do Período Imperial. Contudo, quando da “Revolução” Varguista, mudanças mais significativas no código eleitoral são aprovadas. Dentre as medidas se observa a inclusão do trabalhador e da feminilidade no processo de escolha e sufrágio eleitoral. Porem, tal medida varguista, não se constituiu como ato para atender aos anseios populares, de participação no processo político eleitoral, mas sim, uma abertura para que, com o apoio das esferas populares, Getúlio Vargas se mantivesse no poder, haja vista, o desgaste político com a elite que o mesmo vinha sofrendo.
Isto posto, nesse breve e sucinto diálogo se tem um esboço do histórico ocorrido, para se ver as camadas populares participarem do sistema político brasileiro. Pois, com o desgaste das agremiações e representações partidárias, o sentimento e valorização do histórico de lutas, para se ingressar no processo decisório político vem sendo arrefecido.
Senão, ver-se nos últimos tempos, certos rubis como: “eu detesto política”, “só voto porque sou obrigado”, “quando passa o programa partidário eleitoral na televisão desligo meu aparelho”, “político nenhum presta” etc. Fica o questionamento; quando do processo das eleições partidárias eleitorais quem estará nesse tão importante espaço de escolhas de nossos representantes políticos? Bem ou mal o povo ainda escolhe os “ladrões” políticos. Não se retrocederá ao provincianismo de outrora? Quando apenas os “homens bons” votavam, assim, não se abriria um precedente para que, apenas esses encaminharem-se à participar das eleições partidárias? Haja vista, que a “Grande Massa” não gosta de política, quem então gosta? Ou melhor, tem quem goste. Com a desobrigatoriedade do voto, não se correria o risco de ao invés do povo, “ladrão” escolher “ladrão” para os quadros políticos no Brasil?
Porquanto, não seriam os maus políticos, os reais beneficiários da “liberdade de voto”? Não se possibilitaria uma situação na qual, nas decisões políticas-sociais-partidárias, ter-se-ia maior dificuldade de se obter a participação da massa? Não se estaria se institucionalizando a elitização do poder decisório político no Brasil?
Portanto, são tantos os “CONTRAS”, bem superior aos pros, num possível projeto de “democratização do sufrágio, ou seja, tornar o voto livre, que soa como absurdo, ventilar-se essa concepção, essas ideologizações de tal simbologia e demonstração de consolidação da democracia, no ato de desobrigatoriedade do voto. O sufrágio é uma conquista, a obrigatoriedade foi uma medida para o real fortalecimento da democracia, no qual, todos e não apenas os “homens bons” estejam inseridos no sistema político brasileiro.
Enfim, seria de bom tom a população e a opinião pública virar essa página, ficar em estado de desconfiança (em razão do contexto que ainda estamos) quando alguém cogitar a possibilidade de se rever a obrigatoriedade do voto. Ocorrendo tal situação, indaguemo-nos; Voto Livre? Quem realmente se beneficiaria?
 
 

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