Sobral
e o Setembro D. José
Padre
Palhano: Ascensão e declínio de um mito sobralense.
Da adoção ao pleito de 1958.
Nascido a 7 de maio de 1922, na localidade chamada Ibiapina, no
município de Crateús; José Palhano de Sabóia, era filho de Maria
de Jesus Palhano de Sabóia e Júlio Presciliano de Sabóia.
Advindo de família humilde do interior do Ceará, o menino Palhano
fora adotado pelo então Bispo de Sobral, D. José Tupinambá da
Frota, aos treze anos de idade. Por razão de se encontrar com saúde
debilitada, dona Maria de Jesus Palhano resolve entregá-lo ao Bispo
sobralense, para que seu filho detivesse melhor fortuna seguindo a
vida no Seminário. Conforme Silveira: “Quando vi aquela criança
loura de treze anos, cabelos cacheados, órfão, senti que era meu
dever, de sacerdote e de bispo, atender ao pedido” (SILVEIRA,
2004:480).
Outrossim, discutindo as razões em que motivaram D. José na adoção
do pequeno José, cabe destacar que a mãe deste encontrava-se
enferma e apenas morreria aos 10 de outubro de 1937, dois nos pós
adoção. “O bispo Conde”, no princípio do Seminário São José
de Sobral, costumava escolher jovens para ingressar na vida
sacerdotal, e desta feita, José Palhano fora um dos jovens
agraciados por D. José.
Contudo, Palhano seria um dos seminaristas que detinha atenção
especial do Bispo, tido e havido como o “princepezinho” do clero
sobralense. Por conseguinte, José Palhano recebera a Primeira
Tonsura Clerical com as bênçãos de D. José, na Capela do Rosário
em Sobral a 8 de dezembro de 1944. No ano seguinte, em 30 de setembro
de 1945, Palhano de Sabóia recebera do mesmo o presbiterato na
Capela do preciosíssimo Sangue no Seminário São José em Sobral
(SILVEIRA, 2004: 481). Já no dia 3 de outubro 1945, três dias
depois do presbiterato, o doravante, Padre José Palhano de Sabóia
celebra sua primeira missa na Paróquia do Patrocínio. Em seguida,
este é nomeado Secretário de D. José, uma espécie de assessor
especial, no qual, o renderia significativa notoriedade visto que,
quase todas as ações e passos do Bispo Conde eram precedidos pela
presença do Padre Palhano, sendo até co-autor e co-responsável por
muito das ações do bispado em seu secretariado.
Dentre os bons feitos de D. José, o qual o príncipe do clero
sobralense detivera significativa colaboração, está à criação
do Museu D. José, sendo que, fora Padre Palhano quem reuniria parte
bem numerosa do acervo do referido museu.
Desde o egresso do “Padre Zé” – assim era chamado Padre
Palhano por D. José-, com relação as questões clericais, o bispo
sobralense já com idade avançada, objetivava que seu filho fosse
seu sucessor no comando do clero de Sobral. Apesar de, “Zé da
Palha” – o Bispo também se referia a ele com esse pseudônimo-,
ser um dos melhores celebrantes dente os padres da Diocese d Sobral,
não seria no campo religioso que ele sucederia seu pai adotivo, mas
sim, a obra de D. José seria seguida no campo político-partidário
o qual, padre Palhano ingressara.
Por conseguinte, com o rompimento dos laços políticos e de amizade
de padre Palhano com o coronel Chico Monte, esse passa a arregimentar
seus passos objetivando disputar as eleições de 1958. Zé da Palha,
esperava ser o candidato a Prefeito apoiado pelo Velho Coronel, em
razão deste não declinar por tal anseio de Palhano, dava-se início
a uma das mais árduas disputas políticas de Sobral.
Contudo, padre Palhano e o coronel Chico Monte renovariam a disputa
ocorrida nas primeiras décadas do século XX, pelo Bispo D. José
versus o juiz Dr. José Saboya que disputavam a primazia política e
social da Princesa do Norte.
Nesse ínterim, padre Palhano já vinha preparando os caminhos
necessários para ingressar e trilhar seus passos na vida pública. O
eminente padre era tido como um sacerdote diferenciado, não apenas
pelo domínio das questões e celebrações litúrgicas. Mas também,
pela postura e comportamentos pouco visto entre seus pares, como
andar de motocicleta, vestir calça por baixo da batina entre outros.
Palhano de Sabóia era uma simpatia em pessoa, mestre em conquistar
pessoas e muito admirado. Conforme Rocha: “...como toda criança,
tinha minhas fantasias, meus sonhos e meus astros a serem imitados.
Não havia televisão, shows, onde eu pudesse aplaudir meus
artistas... Eu via o Pe. Palhano e [sonhava], vou ser um padre assim.
(ROCHA, 2002: 4)
Não obstante, padre Palhano costumava e gostava de pilotar motos,
dirigir carros e, havia aquele que talvez, seria um dos maiores de
seus hobbys, pilotar avião. Este último se cofigurava como um dos
alvos de maior fascínio por parte de seus admiradores, e de críticas
dentre os da ala conservadora da cidade. o pupilo de D. José fora
responsável pela reinauguração do campo de pouso de Sobral,
localizado no bairro Betânia.
Dentre as realizações do “Padre-Piloto”, que o credenciava a
pleitear ao comando da “Princesinha do Norte”, vale destacar que
período em que esse foi secretário e por ser filho do Bispo
sobralense, os apoios a campanhas de políticos renomados no Estado –
Chico Monte fora um desses- os possibilitou obter experiência
necessária para seu intento político.
No tocante, aos preparativos para o pleito de 1958, ver-se o apoio e
aconselhamento que o pretenso candidato a Prefeito de Sobral, Padre
Palhano pedira ao quase perpetuo “coronel” do município de
Granja-Ce, Esmerino Arruda que o indicou fazer: “Padre Palhano,
você vai aumentar sua popularidade,se fizer o que o Ademar de Barros
fez com o Lucas Nogueira Garcez... Chamou o comandante de seu avião
particular, queiria fazer um vôo com o Lucas e determinou-lhe que
inventasse uma pane e fizesse o avião descer em lugar deserto.”
(ARRUDA, 1999: 57)
Conforme sugerira Esmerino, o Padre-Piloto, o fizera e simulara, a
queda de seu mono-motor em praia próxima a cidade de Acaraú-Ce.
Todavia, conforme ocorrido com Ademar de Barros, tal simulacro rendeu
bons dividendos e repercussão na cidade de Sobral.
Por conseguinte, com as devidas bênçãos de seu pai o Bispo, Padre
Palhano no ano de 1958 fora lançado candidato a Prefeito de Sobral,
pela UDN, em disputa contra o ex-prefeito Jacyntho Antunes Pereira
da Silva, este, liderado e apoiado pelo velho coronel Chico Monte.
Essa disputa, fora tida e havida, como uma das mais memoráveis e
empolgantes de Sobral. Lustosa da Costa cita que: “Não se tratou
de uma campanha eleitoral, mas de cruzada religiosa... Palhano,
sempre de batina, encantou, enfeitiçou, apaixonou a cidade”.
(COSTA: 1982: 65)
Diante desses acontcimentos, a vitória seria quase eminente, e ela
veio, Padre Palhano vencera de forma fragorosa com 8472 votos, 61,38%
contra 5329 votos, 38,61% de Jacyntho Antunes. Diferença de 3143
sufrágios, façanha em percentagem superada apenas no século XXI –
quando das eleições de 2000, 2004 e 2008-, dando início doravante,
ao Fim do Coronelismo Tradicional em Sobral.
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