terça-feira, 17 de setembro de 2013

Sobral e o Setembro D. José: Parte II


Sobral e o Setembro D. José
Padre Palhano: Ascensão e declínio de um mito sobralense.
Da adoção ao pleito de 1958.
 Nascido a 7 de maio de 1922, na localidade chamada Ibiapina, no município de Crateús; José Palhano de Sabóia, era filho de Maria de Jesus Palhano de Sabóia e Júlio Presciliano de Sabóia.
Advindo de família humilde do interior do Ceará, o menino Palhano fora adotado pelo então Bispo de Sobral, D. José Tupinambá da Frota, aos treze anos de idade. Por razão de se encontrar com saúde debilitada, dona Maria de Jesus Palhano resolve entregá-lo ao Bispo sobralense, para que seu filho detivesse melhor fortuna seguindo a vida no Seminário. Conforme Silveira: “Quando vi aquela criança loura de treze anos, cabelos cacheados, órfão, senti que era meu dever, de sacerdote e de bispo, atender ao pedido” (SILVEIRA, 2004:480).
Outrossim, discutindo as razões em que motivaram D. José na adoção do pequeno José, cabe destacar que a mãe deste encontrava-se enferma e apenas morreria aos 10 de outubro de 1937, dois nos pós adoção. “O bispo Conde”, no princípio do Seminário São José de Sobral, costumava escolher jovens para ingressar na vida sacerdotal, e desta feita, José Palhano fora um dos jovens agraciados por D. José.
Contudo, Palhano seria um dos seminaristas que detinha atenção especial do Bispo, tido e havido como o “princepezinho” do clero sobralense. Por conseguinte, José Palhano recebera a Primeira Tonsura Clerical com as bênçãos de D. José, na Capela do Rosário em Sobral a 8 de dezembro de 1944. No ano seguinte, em 30 de setembro de 1945, Palhano de Sabóia recebera do mesmo o presbiterato na Capela do preciosíssimo Sangue no Seminário São José em Sobral (SILVEIRA, 2004: 481). Já no dia 3 de outubro 1945, três dias depois do presbiterato, o doravante, Padre José Palhano de Sabóia celebra sua primeira missa na Paróquia do Patrocínio. Em seguida, este é nomeado Secretário de D. José, uma espécie de assessor especial, no qual, o renderia significativa notoriedade visto que, quase todas as ações e passos do Bispo Conde eram precedidos pela presença do Padre Palhano, sendo até co-autor e co-responsável por muito das ações do bispado em seu secretariado.
Dentre os bons feitos de D. José, o qual o príncipe do clero sobralense detivera significativa colaboração, está à criação do Museu D. José, sendo que, fora Padre Palhano quem reuniria parte bem numerosa do acervo do referido museu.
Desde o egresso do “Padre Zé” – assim era chamado Padre Palhano por D. José-, com relação as questões clericais, o bispo sobralense já com idade avançada, objetivava que seu filho fosse seu sucessor no comando do clero de Sobral. Apesar de, “Zé da Palha” – o Bispo também se referia a ele com esse pseudônimo-, ser um dos melhores celebrantes dente os padres da Diocese d Sobral, não seria no campo religioso que ele sucederia seu pai adotivo, mas sim, a obra de D. José seria seguida no campo político-partidário o qual, padre Palhano ingressara.
Por conseguinte, com o rompimento dos laços políticos e de amizade de padre Palhano com o coronel Chico Monte, esse passa a arregimentar seus passos objetivando disputar as eleições de 1958. Zé da Palha, esperava ser o candidato a Prefeito apoiado pelo Velho Coronel, em razão deste não declinar por tal anseio de Palhano, dava-se início a uma das mais árduas disputas políticas de Sobral.
Contudo, padre Palhano e o coronel Chico Monte renovariam a disputa ocorrida nas primeiras décadas do século XX, pelo Bispo D. José versus o juiz Dr. José Saboya que disputavam a primazia política e social da Princesa do Norte.
Nesse ínterim, padre Palhano já vinha preparando os caminhos necessários para ingressar e trilhar seus passos na vida pública. O eminente padre era tido como um sacerdote diferenciado, não apenas pelo domínio das questões e celebrações litúrgicas. Mas também, pela postura e comportamentos pouco visto entre seus pares, como andar de motocicleta, vestir calça por baixo da batina entre outros. Palhano de Sabóia era uma simpatia em pessoa, mestre em conquistar pessoas e muito admirado. Conforme Rocha: “...como toda criança, tinha minhas fantasias, meus sonhos e meus astros a serem imitados. Não havia televisão, shows, onde eu pudesse aplaudir meus artistas... Eu via o Pe. Palhano e [sonhava], vou ser um padre assim. (ROCHA, 2002: 4)
Não obstante, padre Palhano costumava e gostava de pilotar motos, dirigir carros e, havia aquele que talvez, seria um dos maiores de seus hobbys, pilotar avião. Este último se cofigurava como um dos alvos de maior fascínio por parte de seus admiradores, e de críticas dentre os da ala conservadora da cidade. o pupilo de D. José fora responsável pela reinauguração do campo de pouso de Sobral, localizado no bairro Betânia.
Dentre as realizações do “Padre-Piloto”, que o credenciava a pleitear ao comando da “Princesinha do Norte”, vale destacar que período em que esse foi secretário e por ser filho do Bispo sobralense, os apoios a campanhas de políticos renomados no Estado – Chico Monte fora um desses- os possibilitou obter experiência necessária para seu intento político.
No tocante, aos preparativos para o pleito de 1958, ver-se o apoio e aconselhamento que o pretenso candidato a Prefeito de Sobral, Padre Palhano pedira ao quase perpetuo “coronel” do município de Granja-Ce, Esmerino Arruda que o indicou fazer: “Padre Palhano, você vai aumentar sua popularidade,se fizer o que o Ademar de Barros fez com o Lucas Nogueira Garcez... Chamou o comandante de seu avião particular, queiria fazer um vôo com o Lucas e determinou-lhe que inventasse uma pane e fizesse o avião descer em lugar deserto.” (ARRUDA, 1999: 57)
Conforme sugerira Esmerino, o Padre-Piloto, o fizera e simulara, a queda de seu mono-motor em praia próxima a cidade de Acaraú-Ce. Todavia, conforme ocorrido com Ademar de Barros, tal simulacro rendeu bons dividendos e repercussão na cidade de Sobral.
Por conseguinte, com as devidas bênçãos de seu pai o Bispo, Padre Palhano no ano de 1958 fora lançado candidato a Prefeito de Sobral, pela UDN, em disputa contra o ex-prefeito Jacyntho Antunes Pereira da Silva, este, liderado e apoiado pelo velho coronel Chico Monte. Essa disputa, fora tida e havida, como uma das mais memoráveis e empolgantes de Sobral. Lustosa da Costa cita que: “Não se tratou de uma campanha eleitoral, mas de cruzada religiosa... Palhano, sempre de batina, encantou, enfeitiçou, apaixonou a cidade”. (COSTA: 1982: 65)
Diante desses acontcimentos, a vitória seria quase eminente, e ela veio, Padre Palhano vencera de forma fragorosa com 8472 votos, 61,38% contra 5329 votos, 38,61% de Jacyntho Antunes. Diferença de 3143 sufrágios, façanha em percentagem superada apenas no século XXI – quando das eleições de 2000, 2004 e 2008-, dando início doravante, ao Fim do Coronelismo Tradicional em Sobral.

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