quinta-feira, 19 de setembro de 2013

Pe. José Palhano: e a ratificação do novo marco em Sobral.

Sobral e o Setembro D. José: Parte IV
        A confirmação do novo líder e o fim da Era Montista

Após a renúncia a Prefeitura de Sobral, o Deputado Pe. Palhano tentou vôos mais altos, representando Sobral e o Ceará em Brasília.
Todavia, com a morte de seu maior opositor, Coronel Chico Monte em 16 de março de 1961, Padre José Palhano de Sabóia não detivera a oportunidade de disputar diretamente uma eleição contra o velho coronel. Apesar de, ter realizado uma administração singela frente ao Paço Municipal, o Padre piloto, disputa a eleição de 1962, como candidato forte da Região Norte do Estado.
No pleito citado, o Prefeito Padre, enfrentaria uma dupla missão; eleger-se ao Congresso Nacional, e “fazer” seu sucessor. Esse lançara Jerônimo de Medeiros Prado – UDN- e a oposição expunha ao crivo dos sobralenses, o mais novo desafeto de José Palhano, seu ex-amigo Cesário Barreto. Este vencera as eleições municipais com 8471 sufrágios, derrotando o candidato do Prefeito-candidato Padre Palhano de Sabóia. (RIBEIRO: 2001: 25)
No entanto, apesar do dessabor de não eleger seu sucessor, Padre Palhano, estabelecia o fim da Era Montista, elegendo-se Deputado Federal com significativa votação. Foram 7842 sufrágios, mais até que a votação dos candidatos de oposição juntos. Francisco Adeodato com 3438 e Marcelo Sanford com 2562 votos.
Desta feita, com sua vitória a Deputado Federal, ele passou de líder local á liderança nacional, pondo fim a “liderança” do velho coronel, e doravante, principiando uma nova era política em Sobral.
A partir do fim da “Era montista”, Sobral vivenciava novos ares políticos e chegaria ao fim o período do coronelismo tradicional na cidade. O município deixava de viver sob a égide de um chefe político com todos os pressupostos de coronel tradicional – o título, as práticas políticas, o voto de cabresto, clientelismo, intimidação do eleitorado, truculência e comando político de apenas um sujeito-, essas são as principais características de um legítimo coronel tradicional.
Senão, o coronel Chico Monte detinha toda essa identidade coronelística supracitada e ainda, perdurava no poder com as práticas políticas discutidas, e, como fala Lustosa da Costa; esse fora o “o último dos coronéis”. Entretanto, o coronelismo não findou, apenas se adequou as novas perspectivas e contexto político e social cedendo margem ao “o Novo Coronel”, este não mais tendo as características e identidade de Chico Mone, mas, representa-se nos sujeitos da modernidade; o Coronel advogado, médico, empresário, engenheiro, padre, ou seja, de fato ainda há os coronéis na Nova Era (PARENTE: 2000:388).
Não obstante, a vitória de Padre Palhano de Sabóia em 1958 e 1962, derrotando a facção montista, constitui um marco na História política de Sobra visto que, desde então nenhum outro grupo partidário conseguiria permanecer no poder local por mais de dois mandatos. Fato esse ocorrendo apenas duas vezes em toda a segunda metade do século XX. Primeiro com um dos liderados de Padre Palhano, em 1972 José Parente Prado que vencera com 13529 votos, o candidato do grupo dos Barretos, Carlos Alberto Arruda que perdera com 11331 sufrágios. Esse também, apoiado pelo Padre político, elegera José Euclides Ferreira Gomes Júnior com 15079 votos, que vencera o “inimigo gratuito de Palhano” -Palhano se referia assim ao candidato derrotado-, Cesário Barreto que obteve 14658 votos.
Outrossim, no segundo caso, o mesmo, José Prado, Prefeito de Sobral de 1989-1992, elegera seu sucessor, Ricardo Barreto Lima em 1992, numa união inesperada das facções de Prados com Barretos principiada em 1989, em oposição a facção dos Ferreira Gomes, vencendo, José Pimentel Gomes.
Desta feita, conforme discutido já nesse trabalho, após Padre Palhano por fim ao coronelismo tradicional, não se teria em Sobral a mesma experiência de poder do velho coronel, no século XX. Este apenas seria superado no século seguinte, com o advento da “Era cidista”.
Contudo, o personagem central da discussão proposta nesse trabalho, configura-se como o “divisor de águas” na História e memória da cidade. Haja visto, as reminiscências e salto no recorte histórico que se faz necessário na discussão proposta, afim de que se possa estabelecer boa compreensão das teses propostas nesse trabalho. Desta feita, observa-se o quanto a presença e influência na memória política de Sobral de Padre Palhano, estabelecendo assim um aspecto simbólico dum vir-a-ser antes e depois de José Palhano de Sabóia.
Todavia,com o advento do Golpe Militar, era cessado o período democrático no Brasil, e com a conivência dos militares, a oposição consegue reunir documentos que resultariam na cassação de Padre Palhano quando Deputado Federal. A documentação era referente ao período em que o mesmo, exercia as funções de Prefeito.
O sucessor, do Padre piloto, Cesário Barreto ao assumir o Paço, fizera auditoria na Prefeitura e elaborara documento que comprovaria uma série de irregularidades de seu sucessor. Essa documentação fora formulada como dossiê publicado com o seguinte título: “A verdade sobre a administração Palhano”. A referida publicação pressupõe possível descalabro, pífia gestão e desagravo ao gestor Padre Palhano (LIMA: 1963).
A medida que, era estabelecido o golpe militar, dispondo de dois parentes militares, o Prefeito Cesário Barreto, consegue que o Deputado Federal Padre Palhano de Sabóia seja cassado, tanto o mandato como os direitos políticos em razão das acusações impetradas e apresentadas pelo seu ex-amigo, então Prefeito Cesário Barreto.
José Palhano, então ex-deputado, anos depois em 4 de outubro de 1967 apresentara documentação, que comprovaria sua inocência quanto as acusações que resultara na perda de seu mandato, intitulado “Em busca da Verdade” (SABÓIA: 1967), apresentado pelo Deputado Federal Osíris Pontes, que expôs defesa no Congresso Nacional das acusações impetradas pelo Prefeito Cesário Barreto.
Contudo, não mais valeria muito a comprovação de sua inocência e absolvição das denúncias. Haja visto, que sua trajetória política já havia sido abortada precocemente e fortemente comprometido suas aspirações políticas, por tal razão, não mais tivera oportunidade de ocupar novos cargos políticos.
entretanto, José Palhano atribuía as duras posições contrárias pelos seus opositores, o motivo de que “descobriram na minha pessoa uma ameaça de provável futuro competidor”. Desta feita, apontamos três principais características que simbolizam a derrocada do príncipe do clero sobralense, são: a morte de D. José Tupinambá, uma oposição implacável e o advento do golpe militar.
Visto isso, com sua perda de mandato e desaparecimento da vida pública, ao menos de forma direta em cargo eletivo, o Padre cassado, não pode alcançar destaque como coronel tradicional, de mesma identidade e características semelhante ao coronel Chico Monte. Assim, esse não fora um coronel de fato, mas sim, o algoz e responsável pelo Fim do Coronelismo Tradicional em Sobral.
 

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