Sobral e o Setembro D. José: Parte IV
A confirmação do novo líder e o fim da
Era Montista
Após a renúncia a Prefeitura de Sobral, o Deputado Pe. Palhano
tentou vôos mais altos, representando Sobral e o Ceará em Brasília.
Todavia, com a morte de seu maior opositor, Coronel Chico Monte em 16
de março de 1961, Padre José Palhano de Sabóia não detivera a
oportunidade de disputar diretamente uma eleição contra o velho
coronel. Apesar de, ter realizado uma administração singela frente
ao Paço Municipal, o Padre piloto, disputa a eleição de 1962, como
candidato forte da Região Norte do Estado.
No pleito citado, o Prefeito Padre, enfrentaria uma dupla missão;
eleger-se ao Congresso Nacional, e “fazer” seu sucessor. Esse
lançara Jerônimo de Medeiros Prado – UDN- e a oposição expunha
ao crivo dos sobralenses, o mais novo desafeto de José Palhano, seu
ex-amigo Cesário Barreto. Este vencera as eleições municipais com
8471 sufrágios, derrotando o candidato do Prefeito-candidato Padre
Palhano de Sabóia. (RIBEIRO: 2001: 25)
No entanto, apesar do dessabor de não eleger seu sucessor, Padre
Palhano, estabelecia o fim da Era Montista, elegendo-se Deputado
Federal com significativa votação. Foram 7842 sufrágios, mais até
que a votação dos candidatos de oposição juntos. Francisco
Adeodato com 3438 e Marcelo Sanford com 2562 votos.
Desta feita, com sua vitória a Deputado Federal, ele passou de líder
local á liderança nacional, pondo fim a “liderança” do velho
coronel, e doravante, principiando uma nova era política em Sobral.
A partir do fim da “Era montista”, Sobral vivenciava novos ares
políticos e chegaria ao fim o período do coronelismo tradicional na
cidade. O município deixava de viver sob a égide de um chefe
político com todos os pressupostos de coronel tradicional – o
título, as práticas políticas, o voto de cabresto, clientelismo,
intimidação do eleitorado, truculência e comando político de
apenas um sujeito-, essas são as principais características de um
legítimo coronel tradicional.
Senão, o coronel Chico Monte detinha toda essa identidade
coronelística supracitada e ainda, perdurava no poder com as
práticas políticas discutidas, e, como fala Lustosa da Costa; esse
fora o “o último dos coronéis”. Entretanto, o coronelismo não
findou, apenas se adequou as novas perspectivas e contexto político
e social cedendo margem ao “o Novo Coronel”, este não mais tendo
as características e identidade de Chico Mone, mas, representa-se
nos sujeitos da modernidade; o Coronel advogado, médico, empresário,
engenheiro, padre, ou seja, de fato ainda há os coronéis na Nova
Era (PARENTE: 2000:388).
Não obstante, a vitória de Padre Palhano de Sabóia em 1958 e 1962,
derrotando a facção montista, constitui um marco na História
política de Sobra visto que, desde então nenhum outro grupo
partidário conseguiria permanecer no poder local por mais de dois
mandatos. Fato esse ocorrendo apenas duas vezes em toda a segunda
metade do século XX. Primeiro com um dos liderados de Padre Palhano,
em 1972 José Parente Prado que vencera com 13529 votos, o candidato
do grupo dos Barretos, Carlos Alberto Arruda que perdera com 11331
sufrágios. Esse também, apoiado pelo Padre político, elegera José
Euclides Ferreira Gomes Júnior com 15079 votos, que vencera o
“inimigo gratuito de Palhano” -Palhano se referia assim ao
candidato derrotado-, Cesário Barreto que obteve 14658 votos.
Outrossim, no segundo caso, o mesmo, José Prado, Prefeito de Sobral
de 1989-1992, elegera seu sucessor, Ricardo Barreto Lima em 1992,
numa união inesperada das facções de Prados com Barretos
principiada em 1989, em oposição a facção dos Ferreira Gomes,
vencendo, José Pimentel Gomes.
Desta feita, conforme discutido já nesse trabalho, após Padre
Palhano por fim ao coronelismo tradicional, não se teria em Sobral a
mesma experiência de poder do velho coronel, no século XX. Este
apenas seria superado no século seguinte, com o advento da “Era
cidista”.
Contudo, o personagem central da discussão proposta nesse trabalho,
configura-se como o “divisor de águas” na História e memória
da cidade. Haja visto, as reminiscências e salto no recorte
histórico que se faz necessário na discussão proposta, afim de que
se possa estabelecer boa compreensão das teses propostas nesse
trabalho. Desta feita, observa-se o quanto a presença e influência
na memória política de Sobral de Padre Palhano, estabelecendo assim
um aspecto simbólico dum vir-a-ser antes e depois de José Palhano
de Sabóia.
Todavia,com o advento do Golpe Militar, era cessado o período
democrático no Brasil, e com a conivência dos militares, a oposição
consegue reunir documentos que resultariam na cassação de Padre
Palhano quando Deputado Federal. A documentação era referente ao
período em que o mesmo, exercia as funções de Prefeito.
O sucessor, do Padre piloto, Cesário Barreto ao assumir o Paço,
fizera auditoria na Prefeitura e elaborara documento que comprovaria
uma série de irregularidades de seu sucessor. Essa documentação
fora formulada como dossiê publicado com o seguinte título: “A
verdade sobre a administração Palhano”. A referida publicação
pressupõe possível descalabro, pífia gestão e desagravo ao gestor
Padre Palhano (LIMA: 1963).
A medida que, era estabelecido o golpe militar, dispondo de dois
parentes militares, o Prefeito Cesário Barreto, consegue que o
Deputado Federal Padre Palhano de Sabóia seja cassado, tanto o
mandato como os direitos políticos em razão das acusações
impetradas e apresentadas pelo seu ex-amigo, então Prefeito Cesário
Barreto.
José Palhano, então ex-deputado, anos depois em 4 de outubro de
1967 apresentara documentação, que comprovaria sua inocência
quanto as acusações que resultara na perda de seu mandato,
intitulado “Em busca da Verdade” (SABÓIA: 1967), apresentado
pelo Deputado Federal Osíris Pontes, que expôs defesa no Congresso
Nacional das acusações impetradas pelo Prefeito Cesário Barreto.
Contudo, não mais valeria muito a comprovação de sua inocência e
absolvição das denúncias. Haja visto, que sua trajetória política
já havia sido abortada precocemente e fortemente comprometido suas
aspirações políticas, por tal razão, não mais tivera
oportunidade de ocupar novos cargos políticos.
entretanto, José Palhano atribuía as duras posições contrárias
pelos seus opositores, o motivo de que “descobriram na minha pessoa
uma ameaça de provável futuro competidor”. Desta feita, apontamos
três principais características que simbolizam a derrocada do
príncipe do clero sobralense, são: a morte de D. José Tupinambá,
uma oposição implacável e o advento do golpe militar.
Visto isso, com sua perda de mandato e desaparecimento da vida
pública, ao menos de forma direta em cargo eletivo, o Padre cassado,
não pode alcançar destaque como coronel tradicional, de mesma
identidade e características semelhante ao coronel Chico Monte.
Assim, esse não fora um coronel de fato, mas sim, o algoz e
responsável pelo Fim do Coronelismo Tradicional em Sobral.
Nenhum comentário:
Postar um comentário